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Foto do escritorDébora Mariz

Sobre valores e preconceitos no mundo do trabalho

Quais são os valores que guiam nossa permanência ou não no emprego? Quais preconceitos em relação ao emprego ou desemprego determinam nossa vida amorosa?


Minas possui uma forte tradição de festa junina e hoje, 13 de junho, é comemorado o dia de Sto. Antônio, santo casamenteiro...


Lembro-me de um dia de Sto. Antônio... Estava solteira e minha mãe falou: "Vou rezar pra Sto. Antônio te ajudar...você vai ver".


Nesse mesmo dia de Sto. Antônio saí para correr e um homem começou a correr do meu lado, puxando conversa. Ele mal conseguia falar, pois não estava acostumado a correr, mas fiquei empolgada. Pensei: "Nossa, a oração da minha mãe é poderosa!"


Nessa época, havia optado por investir no doutorado. Para viver da bolsa de pesquisa, optei por pedir demissão de dois empregos que gostava muito e que me pagavam bem. Diante dessa escolha, permaneci vivendo na casa dos meus pais e adiei a compra do tão sonhado apartamento.


Mas, para mim, essa escolha pela pesquisa significava melhores condições de vida no futuro, pois os dois empregos representavam 45 horas semanais em sala de aula, mais de 600 estudantes e milhares de provas e trabalhos para elaborar e corrigir. Minha saúde, em especial minha voz, estava comprometida e minha vida social e amorosa era um fiasco.


Retomando a reza de minha mãe... eu e ele corremos mais algumas vezes, sempre às 6h da manhã, pois era o horário que eu podia. Estava tão determinada a trabalhar na pesquisa que fiz um cronograma de estudos de 8 horas diárias, além de incluir pausas para café, banho e sono... Um planner digno de uma personalidade obsessiva compulsiva inaciana...


Com a rotina de corrida, ele melhorou o fôlego, também notei que emagreceu... mas continuava desempregado, apesar do curso superior em engenharia. Corremos uns dois meses e ele sempre dizia receber propostas de emprego, mas nenhuma era "boa o suficiente". Vivia de quebra-galhos, fazendo projetos sob demanda, mas sem um plano de carreira. Ele não tinha metas, não investia em cursos, parecia não saber ao certo para onde ir. Apesar de olhar os anúncios de empregos nos jornais, sua fala era sempre pessimista... criticava o governo, a economia nacional e as empresas.


Depois ele me disse que morava em uma república... Fiquei atônita: "Como alguém de 40 anos mora em república?!".


Engraçado como o meu preconceito desconsiderava o tempo do outro e o meu próprio tempo. Como se optar por uma pesquisa tivesse um grau de dignidade diferente de optar por um emprego melhor... Como se morar na casa dos pais aos 30 anos fosse tão diferente de morar em uma república aos 40 anos!? Se há alguma diferença entre nós, talvez estivesse no modo como encarávamos o nosso momento de vida, a disposição e o esforço para mudar.

No entanto, considerando esse meu preconceito e diante da insistência dele para namorarmos; eu que, como diz meu irmão: "atiro e depois pergunto", soltei a seguinte frase no meio da corrida, às 6h da manhã: "não me leve a mal... fudido igual eu, tudo bem; mas, mais fudido do que eu, não dá" 🤦


Ele deu um sorriso amarelo, continuamos a correr e duas semanas depois se despediu de mim. Tinha passado numa entrevista de emprego e aceitou trabalhar em uma empresa no interior de Goiás. Meses depois me ligou, parecia feliz nessa empresa.


Como diz uma amiga: Existem "pessoas momento" em nossa vida! Daquelas que aparecem só para nos dizer algo e, de algum modo, mudar o rumo de nossa vida. Acredito que fui uma "pessoa momento" na vida desse homem. E acredito que palavras duras, às vezes devem ser ditas... pois nos tiram do lugar confortável, mesmo que doloroso, em que nos colocamos.


Mas hoje, também reconheço, o quão "fudida" e preconceituosa eu era: morando na casa dos pais e vivendo de bolsa de pesquisa...


Quais são os valores que guiam nossa permanência ou não no emprego? Quais preconceitos em relação ao emprego ou desemprego determinam nossa vida amorosa? O mundo do trabalho possui muitas nuances, nele reside a beleza e a tristeza de nossa vida, a abertura e o fechamento para o outro, o encontro e o desencontro.

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